
O Judiciário acelerou o pagamento de retroativos e desembolsou R$ 1,1 bilhão nesse tipo de benefício no 1º trimestre de 2025 — valor recorde para o período.
O montante é quase o dobro do pago no mesmo período em 2024 (R$ 590 milhões, em valores corrigidos pela inflação).
A aceleração nos pagamentos ocorreu antes de o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) proibir, em 20 de maio, tribunais de pagar novos penduricalhos desse tipo por meio de decisão administrativa.
O movimento é visto como uma “corrida contra o tempo”, num momento em que supersalários ocupam a pauta governamental e aparecem como tema impopular em pesquisas.
“A impressão é que os órgãos da Justiça aceleraram a criação desses penduricalhos. Pegam uma janela de oportunidade e tentam consolidar esses pagamentos, antes que venha uma legislação mais restritiva”, afirma Felipe Angeli, advogado ligado à ONG Justa, especializada em Orçamento do Judiciário.
Novo recorde de penduricalhos
O pagamento acelerado dos retroativos levou a um novo recorde de penduricalhos.
No 1º trimestre de 2024, o valor somado dos adicionais nos contracheques dos magistrados foi de R$ 3,4 bilhões (corrigidos pela inflação).
No 1º trimestre de 2025, o montante saltou para R$ 4,5 bilhões — maior valor trimestral da série histórica, iniciada em 2018.
O pagamento de retroativos, junto com a licença compensatória, foi o principal motor dessa expansão de gastos.
Os adicionais fizeram a remuneração líquida (dinheiro efetivamente recebido pelos magistrados, após desconto de impostos e previdência) avançar significativamente.
No 1º trimestre de 2024, a média mensal ficou em R$ 56 mil. No 1º trimestre de 2025, saltou para R$ 72 mil por juiz.
Relatório divulgado em junho pela ONG Transparência Brasil mostra que o pagamento de retroativos somou R$ 10,3 bilhões de janeiro de 2018 a abril de 2025.
O documento revela que 8 em cada 10 magistrados brasileiros, incluindo aposentados, receberam retroativos.
Foram 1.657 que receberam acima de R$ 500 mil só desse tipo de pagamento.
Fonte: Uol