Dhayme Araújo da Silva, 43, tinha um currículo invejável. Foi coordenador dos presídios estaduais do Rio Grande do Norte entre 2017 e 2020, era considerado um agente linha-dura e gostava de demitir policiais penais acusados por infrações administrativas graves.
Em 2020 aceitou convite para assessorar o secretário da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará, Luís Mauro Albuquerque Araújo. Em maio de 2021 foi cedido ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público potiguar.
Silva era paraquedista, colaborou com a Força de Segurança Nacional, concluiu cursos sobre intervenções em penitenciárias e dirigiu o GOE (Grupo de Operações Especiais) do sistema prisional no RN na época da sangrenta rebelião de Alcaçuz, que deixou saldo de 26 detentos mortos.
Hoje ele está preso na Cadeia Pública Dinorá Simas Lima Deodato, em Ceará-Mirim (RN). O nome dele, por ironia do destino, consta na placa de inauguração da unidade prisional, entregue pelo governo do estado em agosto de 2018, quando Silva ainda era coordenador dos presídios.
Segundo o Gaeco do RN, em junho deste ano, Silva passou para “o outro lado” e revelou informações sigilosas sobre investigações e operações policiais e forneceu endereços e placas de carros de agentes públicos de segurança para o crime organizado em troca de dinheiro.
A reportagem tentou contato por telefone com a advogada de Silva, Cláudia Tereza Sales, mas não conseguiu localizá-la. O espaço está aberto para manifestação.
A Seap (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária) do Rio Grande do Norte também foi procurada e informou que Silva está afastado das funções desde 2021, quando foi cedido para o Gaeco e desde então não apareceu mais nas dependências da instituição.
Ofertas para o crime organizado
As investigações do MP-RN apontaram que em 11 de junho de 2023, ele procurou uma advogada que defende clientes da facção criminosa Sindicato RN, se apresentou como agente secreto e passou detalhes de investigações de um preso da organização e do filho de um prefeito.
No dia 21 de junho trocou mensagens de WhatsApp com uma advogada acusada de integrar a “Sintonia dos Gravatas”, como é chamado o braço jurídico de facções criminosas. A criminalista também era investigada pelo Gaeco e chegou a ser condenada.
Quatro dias depois o agente ofereceu para outra advogada informações sigilosas de clientes dela recolhidos em presídios estaduais e na Penitenciária Federal de Mossoró, onde estão recolhidos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
O Gaeco apurou ainda que Silva forneceu dados sigilosos de investigações sobre um empresário envolvido em grupo de extermínio, fraudes e sonegação de impostos no valor de R$ 180 milhões. Graças às informações, o investigado fugiu no dia da deflagração da operação para prendê-lo.
Em 2022, Silva foi acusado de tentar vender por R$ 500 mil para o CV (Comando Vermelho) o endereço de Luís Marques Albuquerque Araújo, o secretário da Administração Penitenciária cearense, o mesmo que acreditou nele e o convidou para assessorá-lo
Os investigadores apuraram que Silva havia criado perfis falsos para repassar as mensagens ao crime organizado. Os números de telefones usados por ele foram rastreados e as antenas das ERBs (Estações Rádio Base) apontavam para endereços da casa dele e do próprio Gaeco.
A Polícia Civil potiguar representou pela prisão preventiva dele. A Justiça concordou e o mandado foi cumprido em 18 de outubro deste ano. Silva foi denunciado pelo MP-RN sob acusação dos crimes de receptação de equipamentos da Seap, corrupção passiva e violação de sigilo funcional.
UOL