| 10 setembro, 2020 - 15:36

Lava Jato mira laços familiares que abriam portas no STJ e no TCU e toca em tema tabu no Judiciário

 

Em Brasília é comum ouvir relatos de que os escritórios de advocacia estão sempre em busca de caminhos para facilitar o acesso a ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma das estratégias, descritas no mundo político e jurídico, é de contratar antigos membros ou ex-servidores dessa Corte e do Ministério Público. Seus papéis seriam o de

Em Brasília é comum ouvir relatos de que os escritórios de advocacia estão sempre em busca de caminhos para facilitar o acesso a ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Uma das estratégias, descritas no mundo político e jurídico, é de contratar antigos membros ou ex-servidores dessa Corte e do Ministério Público. Seus papéis seriam o de intermediar o contato com os ministros fazendo uma espécie de lobby para seus principais clientes.

Reprodução

Nesta quarta-feira essa proximidade entre milionárias bancas de advogados e os magistrados das altas cortes ficou escancarada em mais uma fase da operação Lava Jato do Rio de Janeiro, que investiga desvios de 151 milhões de reais da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e de organizações do Sistema S, como Sesc e Senac. Desta vez, o que prevaleceu não foram os contatos profissionais, mas os laços familiares.

O advogado Eduardo Martins, filho do atual presidente do STJ, Humberto Martins, é um dos principais alvos de uma investigação que suspeita de tráfico de influência, por meio de exploração de prestígio, lavagem de dinheiro e estelionato. O Ministério Público Federal acusou Eduardo de receber quase 83 milhões de reais para influenciar em atos de ministros da Corte. Os valores teriam sido pagos pela Fecomércio-RJ. E os casos em análise pelos ministros envolveriam o Sesc e o Senac do Rio, duas instituições irrigadas com tributos públicos. O esquema foi revelado por Orlando Diniz, ex-presidente da Fecomércio que foi preso pela Lava Jato e assinou um acordo de delação premiada para que não retornasse à prisão. A função deste advogado seria manter Diniz à frente da federação. Eduardo Martins não se manifestou, assim como seu pai, o ministro Humberto.

Os vínculos sanguíneos também envolvem representantes de outras Cortes. Outro alvo da operação, denominada E$quema S, em alusão ao sistema S, que abarca Sesc e Senac, foi Tiago Cedraz, advogado e filho do ministro do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz. Tiago tinha o mesmo papel que Eduardo, mas nos casos que envolvessem as prestações de contas da entidade presidida por Orlando Diniz. Sua contratação, por 13 milhões de reais, foi sugerida a Diniz pelo ex-governador do Rio Sergio Cabral, que o definiu como um “vendedor de soluções” no TCU. Essa não é a primeira vez que a família Cedraz é investigada por esquemas de corrupção na Lava Jato. Há pelo menos cinco anos o advogado Tiago e o ministro Aroldo são alvos da operação por suspeitas de irregularidades em contratos da Petrobras. Nenhum dos dois se manifestaram sobre as acusações.

Na esfera estadual, ainda é alvo desta apuração o advogado Flávio Diz Zveiter, filho do desembargador Luiz Zveiter, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele é suspeito de receber 5 milhões de reais por falsos serviços prestados para a Fecomércio. A reportagem não localizou o advogado Flávio.

El País


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