| 29 maio, 2020 - 08:35

Procuradores articulam rebelião contra Aras, após pedido de suspensão de inquérito no STF

 

 Não é só a Praça dos Três Poderes que está conflagrada em razão da crise entre Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal Tribunal Federal. Os ânimos estão exaltados também na sede do Ministério Público Federal, a 2 km dali, onde uma rebelião contra o comandante da instituição, o procurador-geral da República Augusto Aras, está prestes

 Não é só a Praça dos Três Poderes que está conflagrada em razão da crise entre Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal Tribunal Federal. Os ânimos estão exaltados também na sede do Ministério Público Federal, a 2 km dali, onde uma rebelião contra o comandante da instituição, o procurador-geral da República Augusto Aras, está prestes a acontecer. Um grupo de procuradores trabalha para convencer o Congresso a aprovar o mais rápido possível uma proposta de emenda constitucional que torne obrigatório ao presidente da República o respeito à lista tríplice para a escolha do chefe da instituição;  outra ala do MPF busca construir com parlamentares uma alternativa baseada no artigo 52  da Constituição, que diz que o Senado pode interromper o mandato do procurador-geral e exonerá-lo por maioria absoluta dos votos, caso seja constatado crime de responsabilidade. O lobby pela primeira alternativa é público. Um abaixo-assinado está circulando entre membros do MP. Já a exoneração de Aras ainda está sendo perseguida de forma discreta. 

Marcos Corrêa/PR

O estopim da revolta foi o posicionamento do procurador-geral da República contra o inquérito do Supremo que investiga a existência de uma rede de disseminação de fake news e ameaças a ministros da Corte Superior. No bojo desse inquérito, a Polícia Federal realizou, nesta quarta-feira (27), 29 ordens de busca e apreensão em endereços de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Inconformado, Aras pediu no mesmo dia a suspensão do inquérito ao STF, alegando que o MP não havia concordado com as buscas. A questão é que, no final de outubro de 2019, pouco depois de assumir o cargo, Aras havia sido favorável ao prosseguimento da investigação. Com isso, contrariou um parecer da antecessora, Raquel Dodge, que considerava inconstitucional o STF abrir um inquérito, investigar e ainda julgar o crime de que a própria Corte teria sido vítima.  Nesse movimento, Aras não só legitimou a ação do STF,  como passou a participar dela. 

Com a ofensiva do Supremo aos sites bolsonaristas, o procurador-geral mudou de postura. Parte significativa dos membros do MP não engoliu a atitude. Considera que ele está desmoralizando a instituição para atender aos interesses particulares do presidente. E não só: nos bastidores, já começam a resistir às ordens do chefe. Na quarta-feira, por exemplo, nenhum dos procuradores que normalmente auxiliam Aras na redação de suas peças aceitou escrever a manifestação enviada ao Supremo pela suspensão das investigações. A tarefa coube a uma assessora jurídica do gabinete.  “Ele teve a oportunidade de fazer o certo e não fez. E agora está fazendo o certo pelos motivos errados”, me disse um dos membros da categoria, ecoando a indignação reinante. 

O inquérito das fake news vem apenas jogar água na fervura de uma gestão tumultuada internamente por desconfiança e tensão. A relação entre Aras e sua equipe, principalmente os procuradores que trabalham na investigação sobre a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, vem se deteriorando progressivamente. Desde que a investigação começou, Aras rejeitou vários pedidos de diligências apresentados pelos subordinados. Um desses pedidos era para que a Justiça do Rio compartilhasse com a  PGR os autos da operação Furna da Onça, que apurou o caso das rachadinhas da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Foi nessa investigação que surgiu o relatório de inteligência financeira do Coaf apontando desvios praticados por Fabrício Queiroz, assessor de Flavio Bolsonaro. Uma das questões que o inquérito da PGR sobre Bolsonaro visa responder é justamente se houve ou não vazamento de informações da Furna da Onça, conforme afirma Paulo Marinho, um ex-aliado de Bolsonaro. O vazamento teria sido a causa da demissão de Queiroz, entre o primeiro e o segundo turnos. Os procuradores queriam checar o conteúdo e os movimentos da ação, mas Aras não deixou. 

Piauí


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