O juiz Leonardo Safi de Melo, da 21ª Vara Federal Cível de São Paulo, jogou dois celulares no vaso sanitário enquanto a Polícia Federal conduzia buscas em sua residência na Operação Westminster, que mira organização criminosa que cobrava propinas sobre precatórios milionários. A tentativa de destruição dos equipamentos foi presenciada por agentes que estavam no local e embasou pedido para manter o magistrado preso.
“Durante o cumprimento da cautelar de busca e apreensão presenciamos tentativa de destruição de provas por parte do investigado Leonardo Safi de Melo”, aponta relatório da Polícia Federal. “Na presença da autoridade policial, o investigado, deliberadamente, jogou dois aparelhos celulares dentro do vaso sanitário da suíte de sua residência. A tentativa de destruição de provas ocorreu na presença de testemunhas”.
Leonardo Safi é apontado pela PF como líder de organização criminosa, responsável por mapear processos de requisições de pagamento (precatórios) milionárias e deferir decisões favoráveis a partir de propinas de 1% do valor. O esquema contou com a participação do secretário Divannir Ribeiro Barile, que articulava as negociações, e dos advogados Sérgio Santos, Paulo Rangel do Nascimento, Deise Mendroni de Menezes, Clarice Mendroni Cavalieri e o perito Tadeu Rodrigues Jordan, responsáveis pela aproximação com as vítimas e operacionalização dos pagamentos.
Segundo as investigações, Divannir teria chegado a afirmar que falava em nome dos ‘ingleses’, em referência ao juiz Leonardo Safi. A menção batizou a operação de Westminster, distrito na cidade de Londres.
O inquérito foi aberto em março a partir de denúncia anônima e mira crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, concussão e peculato. O documento indicou que o grupo do juiz Leonardo Safi escolhia processos milionários, se aproximava de uma das partes da ação e pedia uma ‘comissão’ para expedir os precatórios.
Uma das ações judiciais investigadas, sobre um processo de desapropriação de imóveis rurais pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que se arrasta há décadas, a organização criminosa teria solicitado vantagens indevidas para expedir um precatório no valor de R$ 700 milhões.
Cheques. Leonardo Safi foi preso no dia 30 de junho pela Polícia Federal. Ao pedir a prorrogação da prisão do juiz, a PF indicou que localizou provas de que o magistrado estaria usando a conta bancária em nome da avó de sua mulher para ocultar os valores recebidos de propina.
“Verificamos junto à empresa Castion Blindagens as condições de compra e blindagem do veículo Jeep Compass recentemente adquirido por Leonardo Safi de Melo”, aponta a PF. “Os pagamentos da blindagem do veículo foram realizados por meio de cheques em nome de Albina Silva Teixeira, avó de sua esposa Thatiane Fernandes da Silva”.
Segundo a PF, os pagamentos foram feitos com cheques nos valores de R$ 23 mil, R$ 20 mil e R$ 18 mil – todos em nome da avó da mulher de Leonardo Safi. Outros cheques em branco com a assinatura de Albina Silva Teixeira foram encontrados na residência do juiz. “Os cartões de movimentação da conta foram localizados na carteira pessoal do juiz federal, o que corrobora os indícios de sua gestão da conta”.
Estadão