| 17 janeiro, 2020 - 08:35

Cúpula da PGR nomeia amigos para cargos sem concurso no órgão

 

Uma delas é Ana Laura Pires de Sá Espinola, que advogou em processos com o pai do procurador-geral

Empossada em setembro, a nova gestão da PGR (Procuradoria-Geral da República) nomeou pessoas com vínculos com a sua cúpula para cargos comissionados no órgão. De outubro a dezembro, foram contratados, sem concurso público, pelo menos três pessoas ligadas ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao novo secretário-geral do MPU (Ministério Público da União), Eitel Santiago.

Reprodução

Uma delas é Ana Laura Pires de Sá Espinola, que advogou em processos com o pai do procurador-geral, o advogado Roque Aras, na Bahia. Ana Laura estava morando no estado da Paraíba, até ser contratada como secretária executiva no gabinete de Aras para receber R$ 12.940.

O órgão também arcou com todas as despesas da mudança da advogada para Brasília como “de ajuda de custo” correspondente a uma remuneração de seu cargo, com base no mês de outubro, bem como indenização por transporte aéreo.

Já o secretário-geral do MPU nomeou o advogado Vinícius Salomão de Aquino, amigo de seu filho, Rodrigo Clemente Pereira, como consultor jurídico de seu setor. Em seu perfil no Facebook, há uma foto de Vinicius com Rodrigo, no time da Olimpíada Jurídica da faculdade. O advogado também apoiou a campanha do filho de Eitel a deputado estadual da Paraíba pelo PSL, em 2014.

Ele postou um material da campanha de Rodrigo, em seu Facebook, com a legenda: “conheço o candidato, pessoa íntegra que poderá ajudar todos os paraibanos na ALPB (Assembleia Legislativa da Paraíba)”. Em seguida, o filho de Eitel agradece a publicação: “obrigado pela força, meu amigo”. Vinicius foi contratado para um cargo na PGR, com salário de R$ 9.216,74.

O advogado Vinícius Aquino, contratado para a PGR, fez campanha para o filho de Eitel e seu amigo, Rodrigo ClementeImagem: Reprodução/Facebook

Eitel também nomeou para a secretaria-geral a advogada Fernanda Monteiro Bronzeado como assessora técnica. Fernanda é filha do promotor aposentado do Ministério Público da Paraíba, Valério Costa Bronzeado, amigo de longa data de Eitel e seu confrade na Academia Paraibana de Letras Jurídicas.

Bronzeado tem uma foto junto de Eitel, em sua conta no Facebook, com a legenda: “com o estimado amigo e confrade Eitel Santiago, merecidamente convidado para ser secretário-geral do Ministério Público Federal, na gestão do futuro procurador Augusto Aras, no lançamento do livro extraordinário de Cleanto Gomes”.

A foto foi postada no dia 14 de setembro do ano passado, cerca de dois meses antes de Eitel nomear a filha do promotor aposentado para a sua secretaria, com o salário de R$ 3.461,96.

Ao UOL o jurista e ex-procurador de Justiça Lenio Luiz Streck explicou que a Constituição Federal estabeleceu o princípio da moralidade, o quer dizer que não pode haver interesse pessoal em nomeações. Segundo ele, apesar de não ser proibido nomear amigos, ou amigos dos amigos, há um problema ético.

“Quem lida com o interesse e patrimônio público deve, também, seguir padrões éticos esperados em determinada comunidade. A fronteira interpretativa é tênue. O princípio da moralidade veio para estabelecer os bons costumes como regra da administração pública”, afirmou.

UOL



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