| 10 agosto, 2025 - 22:16

Ministro Gilmar Mendes é o autor mais citado em teses da Faculdade de Direito da USP

 

O decano do STF é o nome mais comum nesses trabalhos. Ele aparece em nada menos que 151 teses, deixando para trás colegas de Supremo Tribunal como Luiz Fux (82 citações), Ricardo Lewandowski (75) e Alexandre de Moraes (61).

Foto: Fellipe Sampaio /STF

Na faculdade de Direito mais influente do Brasil, o jurista citado com mais frequência não é um autor universalmente conhecido, nem um nome clássico da tradição jurídica brasileira — é o ministro Gilmar Mendes.

A conclusão é fruto de uma análise detalhada. A Gazeta do Povo analisou todas as 347 dissertações de mestrado e teses de doutorado produzidas entre 2020 e 2025 e disponíveis no repositório da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, parte da Universidade de São Paulo (USP).

O decano do STF é o nome mais comum nesses trabalhos. Ele aparece em nada menos que 151 teses, deixando para trás colegas de Supremo Tribunal como Luiz Fux (82 citações), Ricardo Lewandowski (75) e Alexandre de Moraes (61).

Os dados foram extraídos pela Gazeta do Povo e compilados com a ajuda da ferramenta de inteligência artificial Pinpoint, do Google, que identifica os nomes citados em cada trabalho. Embora haja pequenas imprecisões, o resultado permite uma estimativa confiável de quais pessoas são citadas com mais frequência no material analisado. A reportagem da Gazeta do Povo revisou os dados e atualizou os números manualmente (por exemplo: “Gilmar Mendes” e “Gilmar Ferreira Mendes” são a mesma pessoa, embora o Pinpoint contabilize os dois nomes em separado).

Mendes é citado como ministro, pelos votos e decisões que já proferiu; como autor de livros na área de Direito Constitucional; e até como tradutor de obras estrangeiras, especialmente de doutrina constitucional comparada.

Esse protagonismo revela um traço forte do ensino jurídico no Brasil: o peso enorme que o Supremo Tribunal Federal tem na formação teórica e prática dos novos juristas. Em vez de beberem direto da fonte dos grandes pensadores do Direito, muitos acadêmicos acabam olhando para o STF como bússola intelectual.

Um dos pontos que mais chamam atenção nas teses da USP é que os ministros do STF viraram as principais referências do pensamento jurídico. Em vez de estudarem grandes correntes teóricas ou debaterem ideias clássicas, muitos alunos e pesquisadores estão focados em interpretar decisões recentes e acompanhar os temas que ganham espaço no noticiário jurídico.

Outro ponto que salta aos olhos é a presença do pensamento comunista nas teses.

Karl Marx é citado em 36 trabalhos, Friedrich Engels em 15 e Vladimir Lênin em 12. Ainda que nem todas as menções impliquem concordância com seus postulados, o número expressivo de citações demonstra que há espaço considerável na academia jurídica para teorias que enxergam o Direito como ferramenta da ideologia com viés extremista.

A influência marxista tem como característica a visão do Direito como reflexo das estruturas econômicas e das relações de poder, servindo aos interesses das classes dominantes. Essa leitura leva à ideia de que o sistema jurídico precisa ser superado ou reconfigurado para promover igualdade. Quando essas ideias são incorporadas sem o devido contraponto, corre-se o risco de relativizar garantias individuais, o devido processo legal e a estabilidade institucional — fundamentos essenciais do Estado de Direito.

Fonte: Gazeta do Povo


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